Às vezes a vida da gente fica tão diferente que não há mais espaço para o passado. A gente tenta, aperta aqui e ali, mas nada se encaixa. Ainda há um resquício do que foi um dia, um carinho, uma memória, muitas saudades, mas a vida seguiu. Aquela conectividade não está mais ali, é simples.
Mas tentamos, ser humano é um bicho estranho. Nos acostumamos a ter coisas e pessoas e não somos feitos para deixar passar. É preciso aprender, ou não... Cada um terá sua resposta, saber se vale a pena, se realmente precisamos de tal coisa, pessoa ou situação.
Sei lá, é tão possessiva a forma como nos apegamos a algumas pessoas ou lugares que dá pra começar a pensar se não os tratamos como coisas. É tão fácil dizer fulano é meu/minha... Alguém um dia disse: "ninguém é de ninguém!"
Acho que dá medo perder, não queremos perder nada, ninguém, nunca. Palavras tão absolutas e que falam pouco do Outro e muito de cada um de nós.
Me parece que quando perdemos algo ou alguém, perdemos um pouco de nós, ou pelo menos, de um momento da vida, algo de nossa ingenuidade, força, fé, confiança que fica encerrado numa relação, numa situação.
Parece que ao deixar alguém ir, um pouco de nós vai com a pessoa, aquela lembrança do que fomos e do que nos fez feliz por algum tempo, parece que nos é roubada, como se deixasse de existir.
Sabe, minhas memórias sempre vão comigo onde quer que eu esteja e eu tenho boa memória. Pode não ser tão boa para pequenas coisas, como onde deixei a chave, datas e coisas do gênero, mas tenho ótima memória afetiva. Lembro de cada pessoa e momento tocante da minha vida e das pessoas que me cercam, diria que minha memória reside nas relações sociais e afetivas.
Aprendi que não sou capaz de esquecer, sou um pouco feita das saudades. Cada momento que passei, cada pessoa que conheci, cada transformação e superação que tive na vida, contribuiu para a pessoa que sou hoje.
Percebo então que não posso e não quero me privar das memórias e construções futuras, não posso esperar que o passado volte a ser. A verdade é que estou um pouco cansada de desencontros, que na verdade, são tentativas de remontar o que está quebrado. Talvez eu tenha quebrado, mas não posso ser a única a tentar colar.
O momento é agora! Agora eu vivo, amanhã não sei mais.
Uma vez que eu tenha aprendido isso, posso fazer o melhor desse momento, depois pode ser que eu não esteja mais aqui.
Ainda aperta o peito pensar que algumas doces lembranças serão apenas isso, lembranças. Mas não dá pra levar todo o armário na viagem, a gente faz as malas e carrega apenas o que acredita ser prioridade. A gente até costuma lembrar depois que esqueceu algo importante, mas sempre é possível se reinventar para cobrir uma falta.
É a vida! E ela segue, sempre. Não consigo ser diferente da minha natureza e ela consiste em se reinventar. Então, vamos lá, mais uma faxina na alma e, dessa vez, mesmo ciente das perdas, estou feliz, porque caminhei o suficiente para saber que é preciso ir adiante. Tudo que passei e todos que caminharam comigo, permanecem em mim, alguns irão por estradas diferentes, mas sempre teremos as lembranças e o carinho de sempre.
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