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terça-feira, 7 de outubro de 2014

Reflexões - pós eleições 2014

Esse momento pós eleição tirou muita coisa da "caixinha", muita gente da "caixinha".

Sabe, a caixinha do conservadorismo, dos que convivem com pessoas negras, gays, lésbicas, travestis, que nasceu de uma mulher, ou é mulher, mas acha que essa galera toda não deve ter direitos iguais.

(respirando profundamente)

Esses dias de discussão inflamada, madrugadas a dentro discutindo descriminalização do aborto, liberdade religiosa, direitos da mulher, igualdade racial me fizeram sofrer, pensar e questionar muita coisa.

Estou questionando meus afetos, meus amores, meus pares.

Estou pensando em como posso amar pessoas que defendem valores que podem me matar e que têm matado pessoas todos os dias? Pessoas próximas a essas que se dizem defensoras da "família tradicional" e, com isso, de todos os privilégios que compõem uma sociedade branca, cristã, classista, racista, machista e homofóbica.

Como amar pessoas que não conseguem sair do seu quadrado para se sensibilizar com a realidade do outro? Porque amar implica na necessidade de empatia, é quando você se esvazia para amar o outro e recebe esse amor de volta de um outro preenchido pelo seu amor. Assim me ensina a Psicanálise, assim experimento na Vida. É compartilhar amor e dor também.

Mas se esse outro não é sensível às minhas dores, se não se importa com as minhas feridas, como continuar? E quando eu digo minhas dores, falo dessas dores mais amplas e que nos fundam, falo do racismo, falo do machismo, classismo e todos esses "ismos" que nada mais são do que doenças.

Difícil, muito difícil colocar de volta na caixinha e fingir que nada aconteceu.
Eu não consigo ser pela metade, nunca consegui e hoje, nesse pós eleições, questiono como ficará meu coração dilacerado pela dor de ver meus amigos, familiares, os amores de minha vida, se importando tão pouco com o outro, com o próximo, com os direitos.

A vida é dura, a sociedade é uma selva, disso eu sempre soube, mas o que dói é ver meus pares sendo também opositores. Não consigo conceber como pessoas pobres ou classe média, como pessoas negras, gays, lésbicas, mulheres, pessoas de religião de matriz africana podem fechar os olhos para o óbvio, como pessoas que vem sendo discriminadas podem simplesmente entrar no coro, ser massa de manobra!

Acho que é como uma irmã disse e eu completo: O racismo, o machismo, o capitalismo, a homofobia, ganharam. Game Over!

E me dá um pouco d'água, que eu preciso pensar. E chorar também.

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