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domingo, 1 de janeiro de 2017

Sobre 2016 e a mágica do tempo


Foi um ano de me pôr à prova e ir com tudo, ir com medo mesmo, assombrada pelas tais crenças limitantes que vivem em nós como a insegurança e o medo de rejeição. Por outro lado também precisei lidar com o enfrentamento do racismo que nos assola a cada dia e a parcela dele que vive em mim e as quais eu trabalho todos os dias para reconhecer e me libertar. 

Sabe, eu sempre me considerei uma pessoa ousada, uma mulher aberta a mudanças (e sou mesmo!), mas neste ano eu descobri o verdadeiro prazer de ousar, porque ousadia não é só quebrar padrões que choquem os outros, mas é, principalmente, quebrar os padrões internos, se testar, se questionar e aceitar o desafio de ir adiante, foi uma experiência linda, nem sempre deu certo, mas, percebi que fracasso é uma ilusão que a sociedade inventa para nos colocar medo e/ou cabresto. Pois é, NÃO EXISTE FRACASSO! A gente sempre ganha alguma coisa quando se arrisca, seja mais confiança, sejam aprendizados sobre como fazer melhor da próxima vez ou sobre o que não fazer, sejam pessoas que chegam através das experiências e até podemos chegar ao objetivo almejado. Mas não tentar é a morte, é a inércia. 

Eu seria leviana se falasse mal de 2016. Sim, foi um ano péssimo para o meu país, para os que lutam contra as desigualdades raciais, de gênero, sociais e para os que acreditam nos Direitos Humanos para todas as pessoas. Este foi um ano de retrocessos cruéis, muitas portas se fecharam e a gente vai precisar ser muito criativo para derrubar essas paredes e resgatar o que é nosso. Há muito ainda que conquistar também. 

É óbvio que as políticas macro e essas tragédias me afetaram e continuarão afetando, mas 2016 foi o ano de solidificar pensamentos acerca dessas questões. Eu já não acreditava em políticas macro, principalmente porque qualquer direito adquirido ou conquistado sempre chega a população negra de forma enviezada, minimizada, tosca e isso não é impressão, as estatísticas mostram isso. É importante lutar pela manutenção de direitos e conquistarmos ainda mais, porém minha luta é no campo da micro política, na formação de redes, no corpo a corpo. É falando com minha mãe, minhas tias, minhas primas e primos, compartilhando com amigas e amigos, falando nas escolas, para colegas de profissão, é voltar para academia (universidade) para colorir aquele pensamento e pensar em influenciar aquele espaço neste sentido também.

A gente reclama do ano, da política, da população sendo massa de manobra, mas somos nós que fazemos isso, nós somos os coxinhas, somos a esquerda caviar, somos pão com mortadela, porque este povo somos nós. Não adianta falar do Brasil, como se fôssemos alienígenas. Vamos nos perguntar: O quanto estamos nos doando para mudar nosso próximo/a?

Falar desse outro indefinido é bem mais cômodo, mas entrar no embate com a tia ou com o primo na mesa do jantar é que abre estradas para novos pensamentos. Esse ano eu bati o pé em relação a isso, eu me dispus ser criticada ou parecer arrogante quando falo aqui no Facebook e em qualquer lugar que não assisto TV, por exemplo, parece bobagem, mas não é. Com isso eu estou marcando uma posição política de recusar as informações pobres, distorcidas e manipuladas que nos são vendidas e estou abrindo um canal para que me questionem e reflitam. Eu dou minha cara a tapa ao discutir minhas posições políticas com meus familiares, questionar piadinha machista ou lgbtfóbica, desconstruir pensamentos sobre religiões não hegemônicas, afirmar meus pensamentos que divergem de amigas, amigos e irmãos de fé. Resumindo, 2016 foi o ano de “ser a pessoa que eu quero para o mundo”, foi meu mantra pessoal. Afinal, não adianta eu querer uma sociedade maravilhosa, um ano maravilhoso, se eu não for maravilhosa. Então, meu trabalho no ano que passou foi o de me tornar maravilhosa e ainda estou trabalhando nisso.

Eu redescobri e agarrei minha missão de vida no ano de 2016 e esse foi meu maior presente, não foi exatamente nada novo, mas foi o ano de assumir esse compromisso. Nós vivemos em um mundo onde as pessoas negras, quase todas, desejam serem invisíveis, querem ser deixadas em paz para viver suas vidas, porque o racismo é atroz, mas isso tem consequências para nossas subjetividades, a gente se apaga, se esconde, se submete a padrões que marcam nossos corpos e mentes. E este ano eu, definitivamente, decidi assumir meu lugar nesse mundo. Aceitei a missão de sair da invisibilidade e marcar a vida das pessoas, desse meu jeito tímido e falante, mas deixar marcas, trazer reflexões, porque abrir portas para mudanças me faz crer num futuro melhor.

Eu sou uma pessoa melhor depois de 2016, agradeço a minha mãe e toda a minha família pelas trocas, pelos risos, pelo suporte, pela força. Agradeço as minhas amigas (irmãs) e amigos (irmãos) pela caminhada lado a lado, pelas mãos que se seguram, pelas surpresas, pelos reencontros, pelo amor entre nós. Agradeço as minhas afilhadas e afilhados pela luz, pelo presente, por serem as vozes de Deusas e Deuses a cada áudio, foto, chamada em vídeo, em cada abraço e as lindas sobrinhas e sobrinhos que me deixam feliz e orgulhosa a cada conquista. 

E é por isso que chego em 2017 com o coração aberto para continuar a trilhar essa estrada de amor, de fortalecimento, de amadurecimento pessoal e coletivo. Estou pronta para fazer a colheita de tudo que tenho plantado e confiante de que haverá muitos outros aprendizados e. felizmente, a vida tem me preparado para eles.

Se eu tenho uma coisa a desejar pra vocês nesse ano é que se doem, doem a si mesmos, sua escuta, seu colo, seu riso, sua presença. Estar presente de forma inteira na vida, em cada situação, é a melhor experiência que podemos ter, faz momentos memoráveis, cria pontes, laços e retorna mais presença para suas vidas.

Sejam presentes e recebam os presentes que a vida sempre nos traz.
Felicidades pra vocês em todos os dias e todos os anos!

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