Seguidores

terça-feira, 12 de março de 2013

Consciência Negra


Ando meio cansada dos discursos engessados.
Sim, eu sou negra! E não preciso me orgulhar disso. Ser negra é, para mim, uma condição inata. É como ter pulmões, estômago, ter pele... E a cor da minha pele é negra. A diferença é que eu não me envergonho de ser negra, eu gosto disso, não me acho inferior a ninguém e nem me deixo menosprezar por isso.
Apesar disso, não deixo de reconhecer e atestar que o racismo existe e é uma ideologia tosca que cerceia os acessos a bens e serviços para uma parte da população. Sim, uma parte da população, a parte negra não tem os mesmo acessos a direitos como saúde, educação, moradia, emprego como a parte branca, como isto é historicamente comprovado vamos ao ponto. Meu incômodo é com a incoerência.
Eu enxergo o racismo, eu o sinto na pele ainda hoje, mas tenho amigos/as que não o enxergam, sejam eles brancos/as ou negros/as.
Tenho amigos negros/as que acham que o problema da desigualdade no Brasil é apenas social, tenho amigo/as negro/as que não se reconhecem como negro/as ou que têm problemas para reconhecer outro negro/a, tenho outros amigos/as negros/as que são militantes dos movimentos negros (assim mesmo, no plural) e que discriminam estes outros negro/as que ainda não reconhecem o racismo como problema. Alguns destes militantes, que lutam contra o racismo, por terem consciência de que a população dita branca teve maiores acessos e privilégios, quando se encontram em situação favorável, discriminam os brancos também.
Radicalismos... Ditaduras... depois de tantas barreiras, tantas superações, acabamos encerrando algumas “verdades” ou um “modelo” de conduta de como deve ser um negro/a consciente.
O racismo é um Mal que afeta tanto negros quanto brancos e pardos.
Ora, meus caros, compreender sobre o racismo e suas cruéis facetas, diz respeito a um estudo sobre o lugar histórico em que a população negra vem ocupando ao longo dos séculos. Tem a ver não só com o nascer negro/a, com o “sentir na pele”, mas também com identidade, cultura, conhecimento e consciência.
Não existe ninguém mais negro ou menos negro/a. Usar black power ou dread locks não faz de ninguém mais consciente do que outrem. Da mesma forma que alisar os cabelos, raspá-los, fazer escova progressiva, definitiva e etc não faz de ninguém menos negro/a. Vamos julgar menos e preocupar-se mais com as questões pertinentes.
Vamos nos preocupar em sermos pessoas decentes, não subjugar o/a outro/a em nenhuma hipótese, em nos pautar em princípios éticos, vamos amar ao próximo, cuidar de nossas famílias, nossos companheiros/as. Vamos ter atenção às desigualdades e pensar em maneiras de combatê-las. Creio eu que apontar o coleguinha não é a melhor forma de combater nada, cercear direitos, sonegar informações e abusar de privilégios também não são formas de combate, nem do racismo, nem de qualquer coisa que valha.
Depois dessas considerações em forma de desabafo, aproveito para dizer que nada nesse mundo me aprisiona. Não sou de viver em guetos, não costumo idolatrar nada nem ninguém, não gosto de nada “combinadinho”, talvez por isso eu dificilmente ande em grupos, apesar de transitar por vários deles. Portanto, se me der na telha e eu aparecer com uma bela escova “marroquina” ou “London” ou “Portier” (chique como a Glória Maria, jornalista), com cabelo loiro e balançando ao vento, não quero que estranhem.
Eu não sou pudim pra viver em nenhum tipo de fôrma.  Sou o que sou e minha consciência racial e social não tem nada a ver com isso. Meu guarda roupa não é manifesto político ou panfletário, muito menos meu cabelo.
Pronto falei!

14/02/2013

Nenhum comentário: