Ando meio cansada dos discursos engessados.
Sim, eu sou negra! E não preciso me orgulhar disso. Ser
negra é, para mim, uma condição inata. É como ter pulmões, estômago, ter
pele... E a cor da minha pele é negra. A diferença é que eu não me envergonho
de ser negra, eu gosto disso, não me acho inferior a ninguém e nem me deixo
menosprezar por isso.
Apesar disso, não deixo de reconhecer e atestar que o
racismo existe e é uma ideologia tosca que cerceia os acessos a bens e serviços
para uma parte da população. Sim, uma parte da população, a parte negra não tem
os mesmo acessos a direitos como saúde, educação, moradia, emprego como a parte
branca, como isto é historicamente comprovado vamos ao ponto. Meu incômodo é
com a incoerência.
Eu enxergo o racismo, eu o sinto na pele ainda hoje, mas
tenho amigos/as que não o enxergam, sejam eles brancos/as ou negros/as.
Tenho amigos negros/as que acham que o problema da
desigualdade no Brasil é apenas social, tenho amigo/as negro/as que não se
reconhecem como negro/as ou que têm problemas para reconhecer outro negro/a,
tenho outros amigos/as negros/as que são militantes dos movimentos negros
(assim mesmo, no plural) e que discriminam estes outros negro/as que ainda não
reconhecem o racismo como problema. Alguns destes militantes, que lutam contra
o racismo, por terem consciência de que a população dita branca teve maiores
acessos e privilégios, quando se encontram em situação favorável, discriminam
os brancos também.
Radicalismos... Ditaduras... depois de tantas barreiras, tantas
superações, acabamos encerrando algumas “verdades” ou um “modelo” de conduta de
como deve ser um negro/a consciente.
O racismo é um Mal que afeta tanto negros quanto brancos e
pardos.
Ora, meus caros, compreender sobre o racismo e suas cruéis
facetas, diz respeito a um estudo sobre o lugar histórico em que a população
negra vem ocupando ao longo dos séculos. Tem a ver não só com o nascer negro/a,
com o “sentir na pele”, mas também com identidade, cultura, conhecimento e
consciência.
Não existe ninguém mais negro ou menos negro/a. Usar black
power ou dread locks não faz de ninguém mais consciente do que outrem. Da mesma
forma que alisar os cabelos, raspá-los, fazer escova progressiva, definitiva e
etc não faz de ninguém menos negro/a. Vamos julgar menos e preocupar-se mais
com as questões pertinentes.
Vamos nos preocupar em sermos pessoas decentes, não subjugar
o/a outro/a em nenhuma hipótese, em nos pautar em princípios éticos, vamos amar
ao próximo, cuidar de nossas famílias, nossos companheiros/as. Vamos ter
atenção às desigualdades e pensar em maneiras de combatê-las. Creio eu que
apontar o coleguinha não é a melhor forma de combater nada, cercear direitos,
sonegar informações e abusar de privilégios também não são formas de combate,
nem do racismo, nem de qualquer coisa que valha.
Depois dessas considerações em forma de desabafo, aproveito
para dizer que nada nesse mundo me aprisiona. Não sou de viver em guetos, não
costumo idolatrar nada nem ninguém, não gosto de nada “combinadinho”, talvez
por isso eu dificilmente ande em grupos, apesar de transitar por vários deles.
Portanto, se me der na telha e eu aparecer com uma bela escova “marroquina” ou
“London” ou “Portier” (chique como a Glória Maria, jornalista), com cabelo
loiro e balançando ao vento, não quero que estranhem.
Eu não sou pudim pra viver em nenhum tipo de fôrma. Sou o que sou e minha consciência racial e
social não tem nada a ver com isso. Meu guarda roupa não é manifesto político
ou panfletário, muito menos meu cabelo.
Pronto falei!
14/02/2013
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