para cláudia
(ou "pára! a cláudia!")
a morte de cláudia me atormenta.
não pelo vídeo espetacular,
mas pelo silêncio retumbante.
sim.
por mais barulho que tentemos fazer em torno do caso,
soa como silêncio diante da monstruosidade da cena.
aquele vídeo do cinegrafista amador foi divulgado sem som.
nossos gritos em torno do caso parecem também sem som.
de vez em quando parece que vai soar,
mas só quando se imagina como seria se fosse uma branca.
mas é uma mulher preta.
faz-se um silêncio danado.
um silêncio de fim de existência.
o fim.
foi uma mulher preta.
vale menos a carne preta,
menos ainda se for de mulher preta,
já se sabe.
só se imagina sua dor quando ela é imaginada branca.
mas não queremos "e se fosse branca".
queremos que soe a dor,
sabendo-a mulher negra.
mas ela não gritou.
já era morta.
e os gritos que damos diariamente?
alguém escuta?
ou já somos mortos?
ou já somos mortas?
alguém me escuta?
Autoria de Gustavo Melo que escreveu aquilo que, em mim, só dói.
Nenhum comentário:
Postar um comentário